Brasil tem menos de 3 médicos por cada mil habitantes, mostra estudo
fonte: O Globo
O Brasil tem 2,69 médicos por mil habitantes. É o que aponta a Demografia Médica no Brasil 2023 (DMB). O levantamento é inédito e foi feito pela Faculdade de Medicina da USP em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), usando os dados mais recentes do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Conselho Federal de Medicina (CFM).
No total, o país tem uma população de 203.062.512 pessoas. Dentre elas estão 545.7671 médicos. O levantamento tem como objetivo atualizar os indicadores e projeções sobre oferta e distribuição de médicos pelo Brasil.
O trabalho aponta a desigualdade na distribuição de médicos entre as populações dos diferentes estados e regiões do Brasil. Enquanto que o Distrito Federal tem 6,13 por cada mil habitantes, o Maranhão tem apenas 1,17. Rio de Janeiro (4,19) e São Paulo (3,57) completam a lista dos três primeiros colocados, Pará (1,33) e Amapá (1,45) estão entre os três últimos. Dezenove estados, nenhum deles das regiões Sudeste e Sul, têm taxa de médicos por habitantes abaixo da média nacional. Sete unidades federativas têm menos de dois médicos por mil habitantes.
O Sudeste tem a maior densidade médica (3,62), seguido de Centro-Oeste (3,28), muito em função do Distrito Federal, e da região Sul (3,12), aponta o levantamento. As regiões Norte (1,65) e Nordeste (2,09) estão abaixo da média nacional. O estudo pondera, no entanto, que é a primeira vez que o Nordeste passa a registrar mais de dois médicos por mil habitantes.
O levantamento revela a concentração médica nas capitais brasileiras. Vitória tem 18,14 médicos por mil habitantes, sendo seguida por Porto Alegre (11,55), Florianópolis (10,30), Belo Horizonte (9,58) e Recife (9,51). Na ponta de baixo, ficaram Manaus (2,77), Boa Vista (2,68) e Macapá (2,21). As demais capitais apresentam uma densidade médica entre 8,63 e 3,01. A média nas capitais é de 6,81 médicos por cada mil habitantes.
Outro dado relevante apontado pelo levantamento é concentração dos profissionais médicos nas grandes cidades. O documento aponta que “dentre os 5.570 municípios do país, 3.861 (69,3%) têm até 20 mil habitantes. Juntas, essas cidades têm cerca de 31,9 milhões de habitantes ou 15,8% da população brasileira. Nesse mesmo conjunto estão apenas 16,7 mil médicos, ou 2,8% do total de profissionais do país. Inversamente, nas 41 cidades com mais de 500 mil habitantes, onde vivem 29% da população nacional, estão concentrados 61,5% dos médicos”. Isso significa que são 366.737 para atender 58,8 milhões de pessoas.
O documento traz um recorte histórico que mostra que o número de médicos cresceu proporcionalmente mais que a população brasileira. Em 2000, éramos 169.799.170 habitantes para 239.110, o que dava 1,41 médicos por mil pessoas. De lá para cá houve um aumento populacional de 19,59%, enquanto que o crescimento do número de médicos foi de 128,25%, ou seja, mais que dobrou.
— A taxa de 2,7 médicos por mil habitantes é consequência da grande abertura de cursos de medicina no país. Nunca o índice foi tão alto quanto agora. No caso do brasileiro, a distribuição tão desigual no território que se sobrepõe a uma maior concentração no setor privado do que no SUS, é uma desigualdade imensa. Em geral, temos mais profissionais no setor privado do que no SUS e quando falamos de médicos especialistas, essa diferença é gritante. Não é possível dizer se a nossa taxa é boa ou ruim com esse nível de desigualdade. Mas sim, a oferta de médicos aumentou muito no Brasil e em todas as regiões — avalia Mário Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP, que coordenou o estudo.
Comparação com outros países
Além de mostrar as desigualdades de distribuição de médicos pelo território brasileiro, o levantamento também compara a realidade do Brasil com a de outros países. Espanha (4,6), Alemanha (4,5), Reino Unido e França (3,2), Canadá e Chile (2,8) estão a frente do Brasil (2,7). Nosso país, por sua vez, tem um índice semelhante ao do Japão e Estados Unidos (2,6), Coreia do Sul (2,5) e México (2,4).
— Nosso índice é muito próximo de países populosos como Japão e Estados Unidos, assim como de países com sistema de saúde universais, como Canadá, e um pouco abaixo como o Reino Unido — pondera Scheffer.
Segundo o levantamento, o Brasil continua abaixo da média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que é de 3,7 médicos por mil habitantes.
Concentração e má distribuição de médicos especialistas
O Brasil conta com 1,58 médico especialista por mil habitantes, considerando todos os profissionais titulados em pelo menos uma das 55 especialidades médicas reconhecidas pelo CFM, aponta o estudo. E a distribuição de especialistas, assim como dos médicos em geral, é desigual no país.
No levantamento, eles avaliaram algumas categorias médicas como cirurgiões — que inclui médicos de 16 especialidades envolvidas com cirurgias, além de Ginecologia e Obstetrícia, pela realização de partos, e Anestesiologia, necessária aos atos cirúrgicos. Foram consideradas ainda cinco especialidades que têm em comum a grande demanda no SUS, também pelo fato de tratarem de situações e problemas de saúde mais prevalentes na população.
Em todas as especialidades estudadas há desigualdade de distribuição de médicos entre as unidades da Federação. Mas, em algumas delas, os médicos estão ainda mais concentrados em certos estados.
“A taxa de cirurgiões por 100 mil habitantes no Pará (10,46), por exemplo, é seis vezes menor que no Distrito Federal (60,84). A densidade de anestesiologistas no Maranhão (4,40), em outro exemplo, é cinco vezes menor que no Rio de Janeiro (22,54)”, esclarece o levantamento.